Quando o caminho traçado é adequado, surgem boas paisagens. Assim é no Alandroal.
Os bons exemplos começam a aparecer e o que se deseja é que se multipliquem. Tudo tem o seu tempo para amadurecer, uma grande rota (a sustentabilidade) leva tempo, passo a passo.
O Luís e a Eunice, com origem em Cascais, são dois jovens experientes arqueólogos. Ao contrário da tendência geral, depois de alguns anos no estrangeiro, regressaram e apostaram no Alandroal. A sua opção é num turismo de alta qualidade – “turismo de contacto pessoal e partilha” -, à medida de cada visitante, em que predominam os percursos e as rotas, tendo a raia alentejana como inspiração – o projeto chama-se Raia Alentejana. Há, pois, jovens que arriscam e acreditam na sua terra. Têm mérito e conseguem. Todos agradecemos.
Mas nesta terra raiana à beira do Guadiana, no interior do Alentejo, em que as histórias de pescadores e contrabandistas se misturam com o montado, os bons exemplos não são só de agora. Alguns vêm de longe e são bem a propósito dos tempos atuais em que nos surge uma crise que nos garantem como incontornável.
Há cerca de 30 anos, as empresas, como é normal, também fechavam. Nessa época, o Cândido viveu o que muitos hoje passam; depois de um regresso de África viu a EPAC, empresa onde trabalhava, em Lisboa, fechar. As respostas, como hoje, podem ser muitas mas resumem-se a duas: resignar-se, desistir e exigir de alguém (provavelmente do Estado) uma solução; ou, pelo contrário, seguir em frente. O Cândido escolheu a segunda via. Reuniu todos os meios que tinha e com muito esforço, trabalho e risco – sim, porque sem risco não há retorno – veio para o Alandroal e com a sua Maria abriu o restaurante A Maria. Hoje, A Maria é uma das catedrais de excelência da restauração alentejana. Assim se mostra que ontem, como hoje, muita da crise depende de cada um.
Na outra ponta, junto ao mar em Parede, nos arredores de Lisboa, há um bairro residencial com um pequeno centro comercial, o Mira Sol, como centenas de outros. A dúzia de lojas existentes – costureira, tabacaria, engomadora, cabeleira, relojoeiro que arranja relógios, sapateiro, café, etc. – fazem todo o sentido e vão passando pela crise, pois, são úteis e prestam serviços a quem ali vive. O Sr. Manel gere um pequeno café. Como sempre, a concorrência neste ramo é muita e o estabelecimento está escondido no fundo do Mira Sol. Todavia, talvez por necessidade, além da simpatia e da eficácia no atendimento, o sr Manel faz diferente, inovou. Além de dois jornais diários, um deles desportivo, tem uma revista semanal. Uma pequena televisão está sempre ligada, embora discretamente. Tudo parece vulgar mas, um simples papo-seco com manteiga é aquecido antes de servido, o difícil é comer só um. Confessou o Sr. Manel que numa manhã normal vende 25 ou mais papo-secos. O ambiente familiar faz o resto e certamente o Sr. Manel vai passar pela crise.
Como o Luís, a Eunice, a Maria e o Sr. Manel, vamos em frente.