professores

O ruído à volta da “luta” dos professores é tanto que é difícil ao cidadão formar uma opinião: quem tem razão?

Muitos dos professores gritam, porque o ministério existe para os lixar. Dos alunos e famílias, nem vale a pena falar, não fazem a mínima ideia da causa da luta. Vamos todos derrubar o governo na esperança tonta de que quem vem a seguir nos arranja empregos onde se ganha muito dinheiro sem trabalhar.

Na verdade, o importante, educar e formar o melhor possível as nossas crianças e jovens, não é debatido nem discutido. No essencial, ninguém fala. Grita-se contra a outra parte.

Como é tradição, a esquerda vota nos sindicatos e a direita no Crato.

Neste caso, há algo peculiar e sintomático: mesmo os mais detratores do Ministro Crato reconhecem grande valor ao Professor e à pessoa Nuno Crato. Daqui se pode concluir que quase por magia, um professor bom, muito conhecedor do meio, e uma boa pessoa, chega a ministro e estraga tudo. Persegue os colegas, consegue desestabilizar as escolas, quer mal aos alunos, põe os pais contra, etc. Dá que pensar.

Sem dúvida que a escola e o meio que a rodeia são a mesma face da moeda, nada os distingue. Assim, se olharmos para o resto é fácil adivinhar como tem andado, e anda, a escola. Aliás, para avaliar a escola o melhor será ver o resultado do que dela sai. A resposta está dada; sabemos onde chegou o país, ou ainda temos dúvidas?

Também se torna óbvio, que quando alguém pretende mexer no status quo e arrisca a fazer as mudanças em que acredita, a reação não pode ser diferente daquela a que temos assistido por parte dos professores, em particular a dos sindicatos. É excelente existirem situações deste tipo para termos sindicatos “fortes” e mediáticos. Coisa muito diferente de termos bons sindicatos.

Não nos podemos esquecer que este é o tal país em que quase tudo era gratuito, o ensino, a saúde e até a utilização das auto-estradas; em que “os ricos que paguem a crise”; “direito ao emprego”, etc., o mesmo país onde os inquilinos estão contra os senhorios e vice-versa. Isto é, mesmo que os professores venham para a rua só porque os sindicatos assim mandam, e que os professores estejam contra eles próprios e ponham a escola pública em causa, é tudo normal e aceitável no Portugal em crise, tal como o foi no passado.

Certamente, ambas as partes, ministério e professores, terão alguma razão.  Esta é a melhor base para encetar um debate sério, onde se discuta a escola pública no verdadeiro sentido da sua valorização. Estão os programas das diferentes disciplinas e os curricula dos diferentes níveis de ensino ajustados às necessidades dos atuais tempos? Os alunos que seguem para a universidade vão adequadamente preparados? As escolas têm, computadores, gabinetes e demais condições necessárias  aos professores, para que possam desempenhar bem as suas múltiplas tarefas? De todas estas tarefas, qual a verdadeira importância e atenção que se dá ao ensino?

Por último,  incomoda-nos cada vez mais que professores e ministério estejam, e sejam permanentemente postos, em lados opostos da barricada. Só os compreendemos do mesmo lado. Como aceitar que tudo o que se possa fazer que não seja pela boa qualidade do ensino, seja quem for a fazê-lo? Esse alguém só pode ser a tutela (ministério) e os atores (professores) com a cumplicidade dos alunos, isto é, da comunidade.

P.f., ministério e professores, batam-se pela boa qualidade do ensino na escola pública. Só a escola pode mudar o país. Temos que preparar o nosso futuro hoje, na escola. Um futuro que será certamente diferente, de grande incerteza e enormes desafios. Por isso, entendam-se rapidamente e cumpram o vosso dever. O país exige.

P.S. – Já depois deste escrito os professores e ministério entenderam-se, desejamos que para o bem sustentável do ensino.

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Adaptado de Esquire, de Matthew Buchanan