Há 40 anos Évora e o Alentejo voltaram a ter uma universidade. Olhar, hoje, para estes 40 anos da Universidade de Évora (UÉ), uma idade matura, e passar em revista tudo o que de magnífico se fez, é um exercício que nos deve projetar para o futuro. Mais do que nunca, o Alentejo e o país, necessitam da UÉ e a recíproca é igualmente verdade. Com grande oportunidade, no Auditório da Universidade, durante um dia, os principais atores destes 40 anos, mas sobretudo do futuro – porque o futuro será o que hoje fizermos – debateram com imensa sapiência os desafios da universidade e do país. Mais uma vez é pena que o Auditório não estivesse a abarrotar de gente a acotovelar-se para ouvir e participar na partilha dos grandes desafios que temos em mão. A desejada, e necessária, simbiose universidade-região continua a ser um sonho; um sonho que vale a pena e que não pode ser um pesadelo.
Simbiose é um termo da biologia/ecologia que traduz a associação de dois ou mais seres de diferentes espécies que vivem conjuntamente com vantagens recíprocas. Isto é, uma relação mutuamente vantajosa, plena de sucesso, tipo win win por excelência.
Nos ecossistemas antrópicos também é assim, este substantivo feminino atribui-se a relações plenas de sucesso. Mais, a relações onde o sucesso só é possível se existir simbiose. O escritor só tem sucesso se existir uma simbiose entre a sua escrita e os seus leitores. Também é assim com os professores e os seus alunos e, se quisermos, entre os políticos e os seus eleitores. De forma mais ou menos obrigatória, este relacionamento dependente é geral e da sua eficácia ditará o seu sucesso. Já o sabemos, e sentimo-lo, o nosso sucesso depende do relacionamento com tudo o que nos rodeia, quanto mais simbiótico melhor.
É assim com as universidades, as empresas e o mercado.
Por cá, o sucesso da Universidade, e consequentemente de todos os que por aqui vivem, trabalham e cá querem ficar, é tanto maior quanto mais eficaz for a sua simbiose com a região (todo o tipo de atores, inclusive as empresas).
Obviamente, quando falamos de simbiose estamos também a tratar de cooperação e parceria. Todos estes termos são essenciais para o Alentejo. Isto é verdade aqui, no Minho ou em Lisboa, mas no Alentejo é mais vital, somos poucos e por isso toda a massa crítica deve concorrer para o desígnio regional que deve sustentar uma visão estratégica de desenvolvimento inteligente onde se possa viver, cada vez mais, feliz e em segurança.
Este tipo de relacionamento simbiótico acontece naturalmente quando as ações são pensadas e desenhadas estrategicamente. Neste desafio, as entidades gestoras e reguladoras devem ter igualmente o seu papel, na procura e incentivo das complementaridades que convidam à simbiose.
É assim, por exemplo, que o Parque de Ciência & Tecnologia do Alentejo se deve posicionar. Este Parque, como ecossistema de ciência e tecnologia, deve responder às necessidades da região, e esta tem de contar e apostar no PC&TA.
O Diagnóstico do Sistema de Investigação e Inovação, apresentado recentemente pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, conclui, muito claramente, que nesta matéria o país teve progressos muito significativos, mas que falta aplicar os resultados desta investigação e traduzi-los em riqueza. Este importante fato deve motivar a UÉ e orientar a missão estratégica do PC&TA.
Lembram-se da UNESUL? Não temos mais margem para falhar novamente.
Efetivamente, a génese deste tipo de parques exige que diferentes atores cooperem entre si de forma eficiente, na permuta de conhecimento e recursos humanos e materiais (matérias primas, resíduos e subprodutos), energia, água e serviços, resultando em vantagens económicas, ambientais, sociais e competitivas significativas. Na prática é simples, basta seguir as boas lições dos ecossistemas naturais.
A redução de custos, a eficiência energética, a transferência de valor e conhecimento, o aumento da inovação, a diminuição de resíduos e de emissões de CO2 e a criação de novas áreas de negócio, são alguns dos resultados que ocorrem naturalmente do relacionamento simbiótico entre a universidade e as empresas. Esta interface, universidade-empresa é obrigatória. O esforço do país em investimento na investigação tem de se traduzir, inequivocamente, na criação de riqueza. Os caminhos entre a investigação e as empresas não podem continuar paralelos, têm que se intersetar.
É simples e fácil, basta fazer e todos ganham.
A Universidade de Évora é um valor imprescindível e inestimável para o Alentejo de hoje e para o futuro que se deseja para a região.
Não o hipotequemos!